segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Forró da Pesadeira


Forró da Pesadeira

Certa vez no pé da serra
Na casa de Militão
Fui num forró de sanfona
De candeeiro em oitão
Comecei pagando a cota
Por exigência de Doca
Dono da contratação

Na cuia de arrecadar
Botei lá meus dois cruzeiros
De longe já escutando
O cantar do sanfoneiro
E de olho nas meninas
Queria uma das mais finas
Para riscar o terreiro

Toca o forró a andar
Eu caí na gafieira
Comecei a paquerar
Ameaçaram peixeira
- Óia adonde tu pisa
Quer imendá as camisa
Muleque de mei de fêra?

Então fiquei mais cabreiro
Fui prestando atenção
Não é que a tal mulher
Era filha de Lampião
Tive que mudar os planos
Comecei outra olhando
Já meio ao desengano

Já na primeira dançada
Bateu forde o pandeiro
- Não se inchira pra moça
Qui namora o sanfonero
Que diabos está passando
Todo mundo já tem dono
Só vai sobrar o terreiro

Apelei para a mais feia
Já velha e desdentada
Quero ver quem é que quer
Esta estrovenga lascada
Quando lhe passei a mão
Chegou o seu Militão
-Respeite minha intiada

De certo que eu fiquei
Louco e apavorado
Para onde eu mechia
Estava a ser vigiado
Foi então que acordei
Nunca mais forró dancei
Pois amanheci suado

Além de todo suor
Era grande a tremedeira
Do forró de Militão
Não quero ver a poeira
Pois sé de um golpe só
Desatei setenta nó
Para fugir da pesadeira

Geonaldes Elhemberg de Sousa Gomes

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012















Aniversário de Clécia
Vou quebrar o protocolo
Deste grupo afamado
Para falar do meu bem
Que vive bem ao meu lado
Que divide o seu amor
Que de amor me chamou
Para estarmos casados

12 do 12 de 80
Foi o nascimento dela
Eu havia nascido antes
Só para esperar por ela
Então veio Victor Ghabriel
Selo de um amor fiel
Compondo nossa aquarela

32 está fazendo
Que Deus lhe permita mais
Pelo menos mais seis vezes
O que ela hoje faz
E eu do ladinho dela
Olhando pela janela
Amando cada vez mais

Eu só quero o sobejo
Do resto do beijo dela
Um taco do seu abraço
Pois vivo pensando nela
Pois ela sendo minha vida
Numa vida dividida
Eu serei a vida dela

Geonaldes Elhemberg de Sousa Gomes

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

No Gato da Madrugada


No Gato da Madrugada (Geonaldes Elhemberg de Sousa Gomes) janeiro 2010

Lá no sertão, lá no meu interior
Onde reina a paz, o amor
Onde amar é minha sina
É Pernambuco e quem não ama é maluco
Tem meu gato que é meu trunfo
Reinando em Araripina

Eu sou do gato, perdido na madrugada
Tô pra tudo e não sou nada
Vem pra cá minha menina
Venha fazer comigo a maior zuada
No Gato da Madrugada
E dar a volta por cima

Venha sorrir, vem dar gargalhada
No gato da madrugada é pra raiar o dia
Venha sorrir, vem dar gargalhada
No gato da madrugada é pra raiar o dia

É pra gritar, é pra pular, é pra dançar...

Tira o pé do chão que dormir que nada
No Gato da Madrugada vive a emoção
Tira o pé do chão que dormir que nada
Deixei lá meu coração

Folião de Araripina


Folião de Araripina (geonaldes E. de S. Gomes)
Janeiro de 2008

Araripina
Araripina
Araripina
Araripina

Do Pernambuco, sou maluco amo e curto
Sou louco por Araripina
Do sertão, és a nossa capital
És no gesso maioral
Tua grandeza é pura estima

Não sei o que seria, a onde iria, o que faria
Se me faltasse Araripina
No carnaval tem folia e coisa e tal
Venha curtir a nossa adrenalina

Sou teu folião, me pararia o coração
Se eu não vice o teu nome Araripina
Sobre as demais, nunca andando parara trás
A frente, avante Araripina 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

FALA SERIO PEDREIRO ESCLARECIDO (ORIGINAL) - Peteleco da Viola


O Brasil retratado pelo pedreiro Peteleco da Viola. A nossa realidade nua e crua!!!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Regras para o cordel


Dados colhidos em: http://www.compadrelemos.com

Teoria do Cordel - Resumo

1. - Sextilha: 


Talvez, por ser mais fácil, seja o gênero preferido pelos nossos repentistas, principalmente no início das apresentações. A Sextilha é uma estrofe com rimas pares, constituída de seis linhas - ou seis versos - de sete sílabas.  Os versos de sete sílabas poéticas são chamados heptassílabos.

Na Sextilha, rimam as linhas pares entre si, ( linhas 
A)
conservando as demais em versos brancos (linhas 
X  - sem rima obrigatória).

Assim, esquematiza-se a Sextilha, quanto à Rima:
XA
X
A
X
A

Leandro Gomes de Barros, grande escritor da Literatura de Cordel, filho de Pombal, Estado da Paraíba, escreveu:

X - Meu verso inda é do tempo 
A - Que as coisas eram de graça: 
X
 - Pano medido por vara, A -Terra medida por braça, 
X - E um cabelo da barba 
A - Era uma letra na praça

Outro exemplo que daremos é o do ceguinho anônimo, que, após a morte de sua desventurada mãe e guia, chorou, com os olhos rasos d'alma, seu infortúnio:

Já tive muito prazer,
Hoje só tenho 
agonia! 
Não sinto porque sou cego,
Eu sinto é falta do 
guia! 
Quando mamãe era viva,
Eu era um cego que 
via!
2. - Sete Linhas, Sete Pés, Septilha ou Setilha. 

No início do século atual, o cantador alagoano Manoel Leopoldino de Mendonça Serrador fez uma adaptação à Sextilha, criando o estilo de seteversos, também chamado de sete linhas ou de sete pés, rimando os versos pares até o quarto, como na Sextilha; o quinto rima com o sexto, e o sétimo com o segundo e o quarto.

Esquematizando, fica:
XA
X
A
B
B
A

Exemplifiquemos com o próprio criador do gênero:

Amigo José Gonçalves,
Amanhã cedinho, 
 
A Coatis, onde reside.
Compadre João 
Pirauá,
Diga a ele dessa 
vez, 
Que amanhã é fim de 
mês,
Deus querendo, eu chego 
lá! 

José Duda do Zumbi (Manoel Galdino da Silva Duda), no ocaso da vida, com a experiência da idade, disse para José Miguel, jovem companheiro, com quem duelava:

Fui moço, hoje estou velho!
Pois o tempo tudo 
muda! 
Já fui um dos cantadores
Chamado Deus nos 
acuda ... 
Este que estão vendo 
aqui 
Foi Zé Duda do 
Zumbi! 
Hoje Zumbi do Zé 
Duda! 

3 - Décima de Sete Pés 

Embora de origem clássica, é a Décima um estilo muito apreciado, desde os primórdios da Poesia Popular, principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os cantadores fecham cada estrofe com os versos da sentença dada, passando a estrofe a receber a denominação de glosa.

Por isso, "glosar um mote" significa: "fazer uma estrofe usando a métrica e a rima de um mote"

Como o próprio nome diz, Décima é uma estrofe de dez versos de sete sílabas, assim distribuídos: o primeiro, rima com o quarto e o quinto; o segundo, com o terceiro; o sexto, com o sétimo e o décimo, e o oitavo, com o nono. Podemos assim representar essa distribuição: 
B B A A C C D D C, ou ainda, na vertical:
AB
B

A
A
C
C

D
D

C


De Antônio Ugolino Nunes da Costa (Ugolino do Sabugi), primeiro grande Cantador brasileiro, extraímos esta estrofe, em Décima, de seu famoso poema "As Obras da Natureza":


A - As obras da Natureza - São de tanta perfeição, 
B - Que a nossa imaginação 
A - Não pinta tanta grandeza!
A - Para imitar a beleza 
C - Das nuvens com suas coresC - Se desmanchando em louvores D - De um manto adamascado
D - O artista, com cuidadoC - Da arte aplica os primores
Nota: O Mote

O Mote
 é uma sentença ou pensamento, formado de um ou dois versos, com que se finalizam as estrofes.
O Mote serve também para se dar o tema da estrofe, pois é sobre o seu conteúdo que se deve versar.
Uma estrofe que responde a um Mote passa a se chamar “Glosa”.

Exemplo: Mote de duas linhas ou dois versos:

“Quem não veio por amor
Aqui não deve ficar”.


Glosa:

Milagre, na Cantoria
É o tinir da viola!
O Cordel é uma escola
De paz, amor e harmonia!
Seja noite, seja dia,
Prosseguimos a cantar
E o verso vem expressar
Nosso carinho ao labor...
Quem não veio por amor
Aqui não deve ficar!

4 - Martelo Agalopado 

Martelo Agalopado atual, criação do genial violeiro paraibano Silvino Pirauá Lima, é uma estrofe de dez versos, em decassílabos, ( versos de dez sílabas poéticas ) obedecendo à mesma distribuição de rimas dos versos da Décima. (B B A A C C D D C ),

A - Quando as tripas da terra mal se agitam, 
B - E os metais derretidos se confundem, B - E os escuros diamantes que se fundem, 
A - Da cratera ao ar se precipitam.
A - As vulcânicas ondas que vomitam 
- Grossas bagas de ferro incendiadoC - Em redor, deixam tudo sepultado 
D - Só com o som da viola que me ajuda, 
D - Treme o sol, treme a terra, o tempo muda, C - Eu cantando Martelo agalopado.
5 - Galope a Beira-Mar

Gênero muito apreciado pelos Apologistas da Poesia Popular que, juntamente com o Martelo, recebeu a denominação de “Décima de Versos Compridos”.

O Galope a Beira Mar é assim chamado em virtude de ser empregado mais em temas praieiros e ter um ritmo que se assemelha ao galopar de um cavalo.

É constituído de estrofes de dez versos de onze sílabas, (Versos Endecassílabos ) seguindo a mesma distribuição de rimas da Décima, (B B A A C C D D C ), sendo que o último verso deve, invariavelmente, terminar com a palavra MAR

Foi criado pelo violeiro cearense José Pretinho, filho de Morada Nova, vaqueiro do "coronel" José Ambrósio, falecido em Lavras da Mangabeira. Contam que José Pretinho, após levar uma surra, em Martelo, de Manoel Vieira Machado, Cantador piauiense, veio a Fortaleza e, na Praia de Iracema, observou o mar, cujo movimento das ondas se parecia com o galope dos cavalos da fazenda do "coronel" Ambrósio. Criado o estilo, procurou o adversário para a desforra. Deixou-o aniquilado. Mergulhão de Sousa divulgou o gênero por todo o Nordeste. Dimas Batista, cantando no Teatro Santa Isabel, em Recife, improvisou sob aplausos:

A - Cantando um Galope ninguém me humilha, 
B - Pois tudo o que existe no mar aproveitoB - Na ilha, no cabo, península, estreito,
A - Estreito, península, em cabo e na ilha,
A - Navio, lá na proa, em bússola e milha! 
C - Medindo a distância eu vou viajar
- Não quero, da rota, jamais me afastarD - Porque me afastando o destino saí tortoD - Confio em Deus pra avistar o meu portoC - Cantando Galope na beira do mar!
6 - Metrificação e Ritmo

Métrica ou Metrificação é a arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos.

A métrica é obtida pela contagem das sílabas poéticas
 e o ritmo é obtido pelas cesuras. (Sílabas tônicas, obrigatórias, nos versos).

Deve-se observar, a princípio, que a contagem de sílabas poéticas difere, em função do ritmo, da contagem de sílabas gramaticais. 

Assim, o verso “ Milena chega em novembro”, gramaticalmente, tem novesílabas:

( Mi le na che ga em no vem bro).

Mas, na contagem poética ( que obedece ao ritmo do canto ou declamação do verso) encontramos apenas sete sílabas poéticas:
Mi le na che gaem no vem ( bro).

Vamos entender melhor essa divisão, ao estudarmos as regras abaixo:
Regra 1 – Contam-se as sílabas poéticas somente até a sílaba tônica da última palavra do verso.

Ou seja: não se contam as sílabas que estiverem depois da sílaba tônica da última palavra do verso.

A última sílaba que se conta é a tônica da última palavra. Ex.- 7 Sílabas:

Eu vi mi nha mãe re zan (do) 7
Aos pés da Vir gem Ma ri (a) 7
E rau ma San taes cu tan (do) 7
O queou tra San ta di zi (a) 7

Oservação: A sílaba entre parêntesis (...) não é contada, porque é uma sílaba final átona ( não tônica).
Regra 2 - Embebimento – Junção de Vogais:

Quando uma palavra termina por vogal átona e a seguinte começa por vogal ou ditongo, pode-se contar como uma sílaba só. Diz-se que houve embebimentode uma sílaba na outra. Ex.:

Ouvindo a fala ao vento. OU VIN DOA FA LAO VEN (to) = São seis sílabas poéticas.

Fazer o amor ser verdade – FA ZER OA MOR SER VER DA (de) = sete sílabas poéticas.

Meu compadre, atenção, que eu vou dizer – MEU COM PA DREA TEN ÇÃOQUEEU VOU DI ZER = Dez sílabas poéticas.

Eu nunca falei da sentença do amor – EU NUN CA FA LEI DA SEN TEN ÇA DOAMOR = Onze sílabas poéticas.
Regra 3 - Hiatos e ditongos - Sinérese e Diérese

Para atender à métrica, hiatos podem transformar-se em ditongos (Sinérese) e ditongos podem transformar-se em hiatos (Diérese)

Exemplos:
Su-a-ve por Sua-ve (3 viram 2)

Ouvimos suave canto - OU VI MOS SU A VE CAN (to) = 7 sílabas

ou OU VI MOS SUA VE CAN (to) = 6 sílabas

Sau-da-de por Sa-u-da-de (3 viram 4)

A SA U DA DE MA TA DEI (ra) = 8 sílabas.

A SAU DA DE MA TA DEI (ra) = 7 Sílabas
Cesuras

Não esqueça que o que dá ritmo à poesia são as cesuras. (Sílabas Tônicas)

Cesuras são as sílabas tônicas que devem existir obrigatoriamente no interior dos versos.

Fazer com que as sílabas tônicas das palavras escolhidas para compor os versos coincidam com as tônicas originais do estilo em que se está versando ( cesuras), é a tarefa mais difícil para o poeta.

Exemplos: 

Heptassílabos: ( versos de sete sílabas, usados nas trovas, quadras, sextilhas, septilhas e décimas de sete pés)

Eu vou cantar o meu verso -- Eu 
vou can tar o meu ver ( so)
Bonito como ele só -- Bo 
ni to co moe le 

Falando do Universo -- Fa 
lan do do U ni ver
 ( so )
Que é feito de pedra e pó. -- Queé 
fei to de pe drae 


Devem ser tônicas: a 
 e a  sílabas. ( 2 e 7)
Decassílabos
( Versos de dez sílabas, usados no Martelo Agalopado)

Muito tempo depois de Ele nascer, -- Mui to tem po de pois deE le nas cer Compuseram a prece pra Maria -- Com pu se ram a pre ce pra Ma ri(a)

Devem sempre ser tônicas: a , a  e a 10ª sílabas. ( 3e10 ).

Endecassílabos ( Versos de onze sílabas poéticas, usados no Galope à Beira Mar).

Eu vou por estradas traçadas no vento -- Eu vou por es tra das traça das no ven ( to )
Montado no dorso alado de um verso! -- Mon ta do no dor so a lado deum ver ( so )

Devem ser tônicas: a , a , a  e a 11ª sílabas. ( 2, 5, 8 e11 ).

Nota final:

Desenvolvemos um método simples de se aprender, pelo ritmo da declamação, onde se localizam as tônicas dos estilos de Cordel estudados neste trabalho:

Basta numerar as sílabas do Estilo e declamar a seqüência numérica, dando ênfase nas tônicas;

Assim:

Heptassílabos: ( Sextilhas, Septilhas e Décimas de Sete Pés)

2 3 4 5 6 7

Decassílabos ( Martelo Agalopado )

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 

Endecassílabos ( Galope à Beira Mar )

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

domingo, 4 de novembro de 2012

Saudades de minha MÃE

Não há palavra que defina
O tamanho da saudade
Da dor da tua ausência
Do vazio que me invade
A justa injusta morte
Cravou o punhal tão forte
No mara da infelicidade

Este é o dia escolhido
Como se fosse acabado
Dias de lembranças ruins
De reviver seu passado
De fazer as referências
Da infância, adolescência
De coração magoado

Dia da pura saudade
Do carinho recebido
Lindávia ou mesmo Lindôr
Nada a ser esquecido
Contemplar a sepultura
Engolir a amargura
Um passado remexido

Que Deus seja sempre o caminho!
100 explicação!!!!

Geonaldes Elhemberg de Sousa Gomes

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quando o amor vale a pena

Quando o amor vale a pena

Quando o amor vale a pena
Esse tem que conservar
Com carinhos e afagos
Ao dormir e no acordar
Um bom dia com um beijo
Que desperta o desejo
De voltar a se deitar

Agradar nunca é demais
Seja do jeito que for
Com um gesto delicado
Um abraço ou uma flor
O importante é cultivar
E sempre incentivar
O sentimento do amor

Com um dia de ausência
Já sentir grande saudade
De estar junto da pessoa
A quem jurou lealdade
É sinal que o amor
Que um dia lhe flechou
É a mais pura verdade

Estar em conexão
No querer e no pensar
Abrir mão alguma vez
Para o outro agradar
Seja qual for o momento
Se unir o sentimento
O amor perdurará.

Fabrício Leite

As peripécias do Minino Sambudo (II)

As peripécias do Minino Sambudo (II)

Feito um cachorro magro
Acuado pelos cantos
Descalço choramingando
Feito bebê no quebranto
Volta o menino sambudo
De lombriga, barrigudo
Teimoso mais de dez tantos

Cutucou Miguel Jacó
Com um prato de chorisso
Procurou para Nedilza
Como fazer um feitiço
Xingou Francisco Jacó
Em Petrônio deu um nó
Comeu o pão de Fabrício

Na casa pintou o sete
Cantou boi da cara preta
Chamou Fabiola Batista
Para bater em Pepeta
Amarrou um bacurim
Botou tomada em fuçim
Estava mesmo sem jeito

Cutucou Ceiça Jambinho
Para fazer um cordel
Fez despacho no banheiro
Se limpou sem ter papel
Ernildo lhe aconselhou
Maria Clara gritou
Atenda ao menestrel

Comeu feijão escoteiro
No caldo botou farinha
No último dia do mês
Comeu um pé de galinha
Vi isso quase tudo
Era o menino sambudo
Que brinquei e convivi

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Os cumedor de rapadura

Os cumedor de rapadura

Tenho sete mas são seis
Que se olhar sá da cinco
Desnutridos tenho quatro
Da grossura de um brinco
Com fome eu tenho três
Tem mais dois que eu não sei
Sobrando só um faminto

Na canto da rapadura
Come um e come sete
Quebrando-a em pedaços
Conosco ninguém se mete
Lhe dou um pedaço dela
Come com dente e banguela
E conosco ninguém mexe

Geonaldes Elehmberg de Sousa Gomes - 25/ 10/ 2012

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Isso só se encontra no meu sertão e meu sertão é assim que o defino

Isso só se encontra no meu sertão e meu sertão é assim que o defino

I
Mulher prenha com o bucho pela goela
E mais um eito de menino em seu pé
Uma ruma de quengas em um cabaré
Galinha para almoço a cabidela
Um tira gosto de pinga com seriguela
Missa meio dia badalando o sino
Uma mulher limpando merda de menino
E um moço prestando ajuda a um ancião
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
II
Menina de saia curta que quer ser moça
Abandona o comprimento do vestido
Rapaz novo e muito mais pervertido
Prometendo todo amor só para ela
Enlouquece e delira ao beijo dela
E na pressão a pressão já vai subindo 
Se bulir tudo acaba em ambos rindo
Felicidade estonteia em clarão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
III
Um jumento pega com cia apertada
Um par de cassuás cheio de menino
Uma cachorra magra atrás latindo
Um preguiçoso deitado na latada
Almoço fraco em lata de goiabada
Uma enxada ao meio dia tinindo
Um velho já banguelo e só sorrindo
Uma gaiola de tala com um azulão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
IV
Tubo de zinco só para guardar feijão
Caixão de tábua repleto com a farinhada
Cuia de oito e um eito de galinhas
Galinha a cabidela ou no pirão
Um cego pedinte clama na procissão
Jipe velho entalado sem destino
Tem Peru no terreiro se enxerindo
Uma casa de taipa sem ventilação
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
IV
Buscar água no açude com mais de légua
Fazer um beiju de forno em farinhada
Uma carga de lenha justa e amarrada
Cavalo com fome comendo berdoégua
Verão castigando, seco e sem dar trégua
Sangue de moça nova se esvaindo
Vagabundo roubando e as leis infringindo
Sem temer nada e sem Deus no coração
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
VI
Carne de bode no espeto bem assada
Canjica e cuscuz com milho bem cosido
Caldo de cana na feira e bem servido
Mata a sede e cura a toda a ressaca
Agricultor brocando e queimando a mata
Na queima da broca bebendo e sorrindo
Na dismatação continua insistindo
Em busca de ter sua sustentação
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
VII
Casa de taipa erguida de pau a pique
Cerca de faxina e cancela batida
Jegue com ancas e viagens repetidas
Buscando água em cacimba ou barreiro
Arapuca armada o dia inteiro
Água de pote em caneco de alumínio
Um velho triste, asqueroso e sovino
Insistindo em ser rico e patrão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
VIII
De palha tem cigarro e também chapéu
O melhor doce pode ser a rapadura
Quixaba presta estando bem madura
Menino empinando pipa rasga o céu
Violeiro na feira debulha o cordel
Meretriz sem nada na rua da amargura
Carne de porco conservada na gordura
Aqui se come torrada em meio ao pão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
IX
Riquinho merda que se diz ser coronel
Coronel a impor e ao pobre subordinar
Calça amarrada com embira de croá
Cigarro de fumo fechado no papel
Cantoria de poetas e o menestrel
Emboladores se pegam sem desatino
E um deles terá que ver tudo caindo
Um bêbado em busca de confusão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
X
Tomar um ponche de maracujá da serra
Dormir ao meio dia na moita de parreira
Comer canto de chinela ao subir ladeira
Animal com arado rasgando a terra
O bezerro desmamado gritando berra
Cedo o vaqueiro tira o leite no curral
Trajado com gibão, chapéu e peitoral
Enterro de pobre em rede sem caixão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
XI
Em uma calçada um velho fuma o cachimbo
Tem Baião de dois com pequi na chapada
Mulher catando piolho à unhada
Feijão de corda na panela de barro
Menino sujo com o nariz em catarro
Fumaça branca na chaminé subindo
Cabritas ao pai de chiqueiro servindo
Vigia noturno sem uma arma na mão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
XII
O pão doce servido com quebra-queixo
Enxada que serve até de campainha
Seriguela e imbu com cachacinha
Bicicleta sem guidom também sem o eixo
Forró de pé de serra e remelexo
Proprietário cobrando ao inquilino
Beata bajulando padre reza ao divino
Sabido engana com adivinhação
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino
XIII
Tem até aspirante a cordelista
Rabiscando poesia igual eu
Também tem poeta que é ateu
Que só crer no que estiver a sua vista
Esse nem pra Jesus abaixa a crista
Tem raiva de padre, igreja e sino
Para ele, ele traça o seu destino
E não pede que Deus lhe der a mão
Isso só se encontra no meu sertão
E meu sertão é assim que o defino

Geonaldes Elhemberg de Sousa Gomes - 18/ 10/ 2012