sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Mané Sabugo na mira de Lampião

Mané Sabugo na mira de Lampião


A noite muito escura,
Turva que era só breu.
Sob luz de tochas claras,
As escuras aconteceu.
Mané Sabugo olhava
O xaxado que dançava
Lampião e o bando seu

Virgulino Ferreira,
Dançava todo encantado.
Reverenciava Maria,
Ajoelhava-se curvado.
Bonita Maria bela,
Se rendia ao amor dela,
A rainha o tinha domado.

Ali o rei do cangaço,
Com súditos e sua rainha.
Festejavam suas vidas,
Dançavam, faziam rimas.
Num instalo ele sumiu,
Lampião não mais se viu,
Isso ao mane intriga.

Da moita a observar,
Zé Sabugo fica aflito.
Por pouco não intervém,
Todo o bando em gritos.
E um vento na orelha,
- Olha só que coisa feia!
Um espião, Zé cambito.

De parabelo na mão,
Com dois coiteiros de lado.
Escorou Mane Sabugo,
Com um punhal afiado.
- O que ta fazeno aqui?
Se veio me prissiguir,
Agora tu ta lascado.

- Num vim pra lhe prissiguir,
Só tava adimirano.
Oiano a sua dança,
E os cordel incantado.
O seu amor por Maria,
A dança e a fantasia,
No compasso do xaxado.

- Conversa cabra safdo,
Tu é homi dos macaco.
Tu futucô foi o cão,
Ta no osso sem capacho.
Tua morte já é certa,
Só uma coisa te resta,
Bandito amardiçoado.

- Tubiba, traga o cabra,
E vai ter qui mi prova!
O que vei faze aqui,
Pra mode mi vigia.
Avise logo a Corisco,
Que vai ter mais um no risco,
Pra mode ele matar.

- Seu capitão tenha carma,
Só vim no mato mijá.
Iscutei só o barui,
Por isso vim ispiá.
Se eu fosse ispião,
Já tinha dado de mão,
Pros macaco lhe pega.

- Intão tu tem uma chace,
Quem sabe pode iscapá!
Vou fazer umas pergunta,
E tu vai ter qui acerta.
Um erro é tua morte,
Pra mode tu se safa.

Levado ao meio do bando,
Por todos ficou cercado.
Mane sabugo tremia,
Rezava já assustado.
Lampião organizava,
Dava as ordens e ditava,
À Mane interpelado.

- Quem dá direção pro vento?
Porque a água é molhada?
Quem seduziu Adão,
Com fruta adocicada?
Se qué viver me responda,
Ou Corisco li estronda,
Filho de quenga safada.

- No vento quem manda é Deus,
O mermo qui moia a água.
Quem seduziu Adão foi,
A serpente invenenada,
O fruto foi a maçã,
Ao comer sumiu a lã,
E ele viu Eva sem nada.

- Quem faz a bala correr?
Porque a morte é certa?
Quando se acaba o mundo?
Que tempo ainda resta?
Vá logo me respondeno,
Que eu já to é veno,
Um tiro in tua testa.

A ispoleta e a poiva,
Fazen a bala andar,
A morte é o seu fruto,
E faz o mundo acabar.
Assim tempo um li resta,
E o tiro aqui na testa,
Vá tratano de evita.

Para se livrar da morte,
Me responda cafuringa.
Entra duro e sai mole,
E na saída ele pinga?
Se você falar errado,
Vai pro cão incumendado,
Você e sua catinga.

- Era só o qui fartava,
Pregunta de bobaião.
Pode ser duro trincano,
Forte que nem Lampião.
Bote na água frevente,
Fica mole e sai quente,
Pingano o macarrão.

Corisco recolheu a arma,
Lampião brindou à vida.
-Tudo na vida tem preço,
O preço é sem dispidida.
Terá qui siguir o bando,
Seu nome será tutano,
Sua vida ta dicidida.

Mane Sabugo falou,
- Lamento mais num vai dá.
Tenho 18 minino,
E muié pra mim criá.
Vô vortá pros meu bichim,
Mues 18 bacurim,
Qui istão a mi isperá.

Corisco mirou de novo,
Um tiro foi iscutado.
Na cama Mane acordou,
Suado e apavorado,
- Valei-me Sr. Jesus,
Livra-me desta cruz,
Perdoe os mus pecado.

E assim Mane Sabugo,
Se encontrou com Lampião.
Se meteu numa enrascada,
Que pensou estar com o cão.
Do sonho ele despertou,
Mulher e filhos avistou,
Sentiu maio emoção.

Geonaldes Elhembeg de Sousa Gomes – 14/ 09/ 2012

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