Favela, Cansanção, Ortiga e Mandacaru para Neco de dona Zefinha
I
Não quero contar vantagem,
Acho isso uma desfeita.
Tem cabra que não se apruma,
Que nem no pau se ajeita.
Conheci um cabra assim,
Ajeitei ele todim,
Ficou uma coisa perfeita.
II
O causo se sucedeu,
No sertão pernambucano.
Neco de dona Zefinha,
É de quem estou falando,
Vagabundo e ladrão.
Em tudo passava a mão,
Ligeiro que nem cigano.
III
O cabra era arengueiro,
Bom de acabar forró.
Pegava um pingo d água,
Amarrava em 8 nós.
Botava briga de vizinho,
Fazia tudo sozinho,
Era entojo de dar dó.
IV
Um dia o égua sismou,
Mexeu no que não devia.
Entrou lá na minha roça,
Me roubou 7 forquilhas.
E eu cheguei bem na hora,
Travei o cabra na espora,
E o danado amarrei.
V
Amarrei o filho da égua,
Num pé de mandacaru.
Quanto mais ele mexia,
Mais engrossava o angu.
- Não me mate - Ele dizia,
Dava dó da agonia,
Então passei o bizu.
VI
- Eu não vou lhe matar,
Mais vou dar-lhe uma lição.
Lembrarás de mim pra sempre,
Sempre que pisar no chão.
E o arrependimento,
Será o seu sentimento,
Doravante meu irmão.
VII
Cortei galhos de favela,
Ortiga e cansanção.
Juntei tudo em um molho,
Como se faz varrição.
Alem do mandacaru,
Varri o cabra já nu,
E era aquela pulação.
VIII
- Valei-me Nossa Senhora,
Me acuda meu Jesus.
- Me livre desta agonia,
Eu prefiro tua cruz!
- Sou puro arrependimento,
Te juro que tomo tento,
Me conceda tua luz.
IX
Passei o ramo no cabra,
Esfreguei de cima a baixo.
Ele todo se ardendo,
Sem poder coçar no saco.
A coceira e os espinhos,
O cabra ficou mofino,
Acabou-se o tal do macho.
X
Cortei então as amarras,
Disse, banhe e vá embora.
Se desta não virar homem,
O inferno é tua escola.
Serás aluno do cão,
Viverás de confusão,
Até que te derem cabo.
XI
Estando agora vestido,
Todo corpo em coceira.
Sem titubear falou,
A voz cortando e rasteira.
-Agora vi a verdade,
revelo sem vaidade,
Tudo que fiz foi besteira.
XII
-Que ser visto como homem,
O respeito é minha meta.
Meu caminho será certo,
Linheiro como uma reta.
Minha guia será Deus,
Servirei aos filhos seus,
Evitarei o que não presta.
XIII
Foi assim que sucedeu,
O fato aqui contado.
Neco de dona Zefinha,
Saiu daqui já curado.
Se tornou até beato,
Quem quer constatar o fato,
Passe nesta freguesia.
XIV
O remédio ainda tenho,
Pra ajeitar cabra safado.
O mandacaru de pé,
A favela está de lado.
A ortiga e a cansanção,
Num estalo tá na mão,
Isto é fato consumado.
Geonaldes Elhemberg de Sousa Gomes - 08/ 09/ 2012
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